Até o clipe "This is America" mostra que carros estão em baixa nos EUA
"This is America" é um clipe do norte-americano Childish Gambino (também atoe e conhecido em Hollywood como Donald Glover) que tem causado muita polêmica em seus três dias de vida na internet. A transmissão oficial no YouTube soma mais de 37 milhões de visualizações no momento em que esta postagem é escrita. Jornais, revistas, contas no Twitter, Instagram e Facebook, além de sites, discutem as possíveis críticas sociais, raciais e sobre o consumismo existentes na peça. E, claro, todos falam das imagens pesadas e violentas da micro-história. Mas UOL Carros está aqui para tratar dos automóveis da narrativa.
E "This is America" é dominado por carros dos anos 1970 e 1980 fabricados, predominantemente, pelas marcas japonesas Toyota e Honda. Há uma profusão de gerações iniciais de Corolla e Civic em diferentes carrocerias (hatchback, liftback e station wagon) nas imagens do clipe. Entre eles, alguns poucos modelos americanos, como sedãs da Cadillac ou um Lincoln Town Car. Um Hyundai Elantra também aparece. E uma picape não identificada, mas que pode ser uma… Hilux, outro modelo da Toyota da década de 70.
Qual seria o motivo disso?
Diversas teorias surgidas nesses três dias apontam para a crítica ao consumismo direcionada às cenas em que os carros aparecem. Mas por que o clipe, que mistura as batidas de hip hop, funk e spirituals norte-americanos, não usa "carrões" atuais ou mesmo muscle cars da época, como fazem outros clipes de ostentação?
Ao que parece, a ideia é mostrar que, no chamado "mundo real", a população não anda podendo ostentar muito. Daí o fato de muita gente ter de se virar com carros velhos, colocando modelos com duas, três ou quatro décadas de uso na garagem.
Carros deste período, aliás, iniciaram o sucesso das marcas asiáticas nos EUA. Durante a crise do final dos anos 70 e começo da década de 80 (que começou como crise internacional do petróleo e depois ganhou contornos políticos), marcas japonesas (Nissan, além de Toyota e Honda citadas) se deram bem por venderem modelos mais econômicos e mais baratos que as rivais americanas. Muitos criticavam uma suposta falta de qualidade, mas parcela ainda maior só conseguia comprar estes carros com o orçamento apertado.
Com o passar do tempo, estas marcas asiáticas (incluindo também a Hyundai, além da Kia) acabaram varrendo a concorrência: ainda que a Ford domine o mercado no geral com a liderança da picape Série F há mais de trinta anos, quando se fala apenas de carros de passeio são Nissan, Honda e Toyota quem dão as cartas.
Isso bate com o atual momento do cenário, de fato. O segmento de novos destes carros de passeio caiu mais de 20% em 2017 e deve seguir nesta toada em 2018, nos EUA. Ao mesmo tempo, o mercado total por lá deve ter um ano sem crescimento expressivo, apesar das vendas de picapes/trucks e SUVs estarem cada vez mais aquecidas. É isso que faz com que a Ford anuncie, por exemplo, que vai abandonar a produção de carros-ícones como Fiesta, Focus (hatch e sedã) e Fusion, por exemplo, mesma decisão da marca Chrysler (a FCA bomba cada vez mais as marcas RAM e Jeep). Ou da Cadillac, marca de luxo da GM, que só anuncia novos projetos de SUVs, não dos grandes sedãs.
Ou seja: quem compra automóvel nos EUA está preferindo levar utilitários para a garagem. Mas menos gente está comprando carros novos no geral. E muita gente não está podendo arcar com custos que não os de carros antigos. E essa situação da "vida real" influencia até a arte. (por Eugênio Augusto Brito)
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