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'Taxi elétrico' mostra um Brasil ainda desligado do mundo

Eugênio Augusto Brito

14/12/2010 19h24

EUGÊNIO AUGUSTO BRITO
Enviado especial a Curitiba (PR)

O leitor ligado no UOL Carros sabe a quantas anda o desenvolvimento de automóveis com propulsor alternativa ao motor a combustão: mundo afora, híbridos batem recordes de vendas e são aclamados com prêmios — isso já é realidade nos Estados Unidos, Europa e Japão. Também por lá, governos e sociedade se apressam para definir políticas de regras e, principalmente, benefícios para veículos elétricos com a tal "emissão zero" de poluentes. Claro, a adoção em maior ou menor escala depende do mercado, que é guiado pela pressão do "ambientalmente correto", mas também (e com muito peso) pelo preço e disponibilidade dos derivados de petróleo.

Aqui no Brasil, no entanto, o caminho é outro: discutimos em quais Estados é vantajoso trocar a gasolina por álcool no momento de abastecer, reclamamos da alta do preço do etanol durante a entressafra da cana e, vez ou outra, participamos de fóruns acalorados sobre o veto ao uso de motores a diesel em carros de passeio. Automóveis híbridos são novidades pontuais e veículos elétricos ainda habitam o mundo de sonhos, projetos e salões do automóvel — estão num porvir ainda distante. No geral, a iniciativa privada espera que o governo (em todas as suas esferas e poderes) defina sua política para começar a pensar no assunto para valer, enquanto o governo se vale do programa do álcool para adiar a decisão.

Fotos: Eugênio Augusto Brito/UOL

Taxi elétrico (acima) é iniciativa da Fiat, empresa de energia do Paraná e cooperativa de taxistas

De toda forma, mesmo reservadas a espaços e/ou grupos fechados, propostas e projetos pipocam aqui, ali, ou acolá, e cada vez mais passam a fazer parte do cotidiano de algumas pessoas. As fotos que ilustram este post, feitas no setor de desembarque do Aeroporto Internacional Afonso Pena, na região Metropolitana de Curitiba (PR), são exemplo disso.

A perua Fiat Palio Weekend convertida em modelo elétrico não é novidade e foi mostrada, aqui mesmo, em julho de 2009. Na oportunidade, foi vista e testada dentro da Usina de Itaipu, local do projeto piloto. Ações semelhantes estão sendo desenvolvidas em diversos pontos do país, fruto da parceria entre concessionárias do setor elétrico e fabricantes automotivos, consagrados ou não. Quer mais um exemplo? O utilitário Aris, da Edra e da CPFL, no interior de São Paulo.


Protótipo ainda tem baixa autonomia e longo tempo de recarga, mas já traz economia

Voltando à perua, o diferencial agora está na liberação do uso público: uma unidade do carro foi convertida em taxi e está à disposição dos passageiros do aeroporto desde outubro, contanto que esteja carregada. Funciona assim:

O passageiro procura o quiosque do serviço (que poderia ser menos escondido, aliás) e informa para onde quer ser levado. Com o trajeto fechado, o preço da corrida é definido tendo como base o valor a ser pago em um carro convencional e a aplicação do desconto padrão de R$ 20, concedido para estimular o uso do chamado "taxi elétrico". O preço final é pago ali mesmo, antecipadamente, com dinheiro ou cartão. Viajantes frequentes também podem obter uma espécie de cartão pré-pago, com créditos que serão descontados conforme o uso. Uma corrida que custaria R$ 50 em um carro de praça convencional, por exemplo, custa R$ 30 no elétrico.


Acima, painel da perua informa que carga está quase completa: autonomia média é de 150 km

Tudo depende, é claro, da disponibilidade do carro, que pode estar em outra corrida ou, mais comum, ligado à tomada, carregando. A autonomia das baterias da Palio Weekend elétrica ainda é curta e, segundo os atendentes e um motorista, são suficientes para apenas quatro ou cinco corridas "médias" ao longo do dia. De fato, após rodar cerca de 150 quilômetros, o carro tem de ser recarregado durante 8 horas.

De qualquer forma, embora o custo inicial ainda seja caro, a massificação do projeto tende a ser benéfica a passageiros e motoristas. De um lado, a viagem é mais tranquila, sem ruído do motor, barulho de escape e poluição; do outro, há aumento de potência, além de economia e mais praticidade no reabastecimento.

O custo efetivo do quilômetro rodado ainda está sendo calculado (este é mais um dos objetivos do projeto), mas estima-se algo como 3 centavos de real por quilômetro contra 24 centavos de carros compactos "mil" — e com um cartão de usuário (foto à esquerda), o taxista libera o ponto de carga, "enche o tanque"  e paga a fatura junto com a conta de luz residencial.

Gostou do projeto e gostaria de vê-lo num aeroporto mais próximo de sua cidade? Esqueça! A proposta, que poderia ser levada oficialmente a outros pontos do país, foi barrada de forma estapafúrdia na Câmara dos Deputados, como relatou o jornalista e colunista de UOL Carros Joel Leite (veja aqui).

Mas como tudo ainda está em estado embrionário, temos tempo para discutir, articular e cobrar.

E você, o que acha do desenvolvimento de formas alternativas de propulsão no Brasil? Opine no campo de comentários abaixo.

Conhece algum projeto híbrido ou elétrico sendo testado em sua cidade ou região? Fale com UOL Carros.

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Bastidores, curiosidades e pequenas loucuras revelados pela redação de UOL Carros, que nunca para de falar de carros. Nunca...

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