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Dilma está certa ao defender carro só para lazer

UOL Carros

01/11/2013 19h03

A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira (1) que carro é uma coisa boa e que todo mundo quer ter o seu, mas que ele deveria ser usado somente para o lazer. Entre casa e trabalho, trabalho e estudo, casa e estudo, e quaisquer outros trajetos urbanos que sejam habituais e cotidianos, o melhor (para não dizer o certo) é embarcar no transporte público.

A observação foi feita durante entrevista a uma rádio da Bahia, onde a presidente esteve para inaugurar uma obra viária na capital, Salvador. UOL Carros transcreve:

[Ao ser perguntada sobre o trânsito nas grandes cidades e ineficácia do transporte de massa] "Acho que são duas questões, e a mais grave é o fato de a gente não ter investido nos últimos anos nesse país — e quando falo nos últimos anos, estou falando nos últimos 30 anos — em transporte urbano de massa.

"Não há lugar nenhum do mundo que deixou surgir cidades acima de 2 milhões de habitantes, ou até de 1 milhão de habitantes, sem olhar como funcionaria o transporte urbano sobre trilho — metrô, monotrilho ou trem interurbano — e o transporte rodoviário de massa.

"No Brasil, tinha um mito de que nós não tínhamos recursos e, portanto, não podíamos investir em metrô. Esse foi um grande problema e agora estamos correndo atrás dele.

"Paralelo a esse [problema], eu concordo que houve no Brasil uma melhoria de renda, foi incentivada a produção de veículos e todo brasileiro quer ter um carro. O que nós temos de fazer? Mostrar que o transporte privado é um transporte para momentos de lazer. E o transporte que vai levar você da casa para o trabalho é um transporte de massa. Então tem de ser de qualidade, rápido, seguro e com preços módicos."

Como quase toda cidade grande do Brasil, Salvador tem graves problemas de mobilidade. Seu metrô, por exemplo, só vai sair do papel depois da Copa de 2014 (as obras começaram em 1997).

Por isso, e por muitos outros motivos, é fácil criticar o que disse a presidente; afinal, como não usar carro em nossas metrópoles absurdas? Como deixá-lo na garagem e se expor ao desconforto, ao risco, enfim, ao amplo aborrecimento que é usar transporte público — por exemplo — em São Paulo?

Pode parecer estranho, mas UOL Carros concorda com a essência do que disse a presidente.

Quanto mais o seu, o meu, o nosso carro ficar na garagem, melhor será para todo mundo.

CULPA DO SISTEMA
Quem mora e trabalha no chamado centro expandido de São Paulo (grosso modo, a área delimitada pelos rios Tietê e Pinheiros, ou o "deste lado da ponte") e faz seu trajeto diário a bordo de um carro precisa, urgentemente, submeter-se a um exame de consciência. Será mesmo que não dá para usar ônibus, trem ou metrô, ou uma combinação destes?

Talvez seja uma mera questão de aprender a gostar do transporte público. Ou aprender a usá-lo da maneira mais eficiente (e até prazerosa) possível. Por exemplo, hoje em dia todo mundo tem smartphone, ou pelo menos algum celular com função de player musical; portanto, não ter o que fazer a bordo de um ônibus deixou de ser desculpa.

Também pode ser bom para aprender a questionar o, digamos, "sistema".

Afinal, quem foi mesmo que determinou que todo mundo tem de entrar e sair do trabalho no mesmo horário? Na garagem do prédio, pela manhã, tem congestionamento de carros para chegar à rua; no prédio de escritórios, às 12h, tem congestionamento de gente na catraca em direção ao almoço; às 18h é a saída dos estacionamentos das Berrinis e Juscelinos da vida que ficam travadas.

No caso dos ônibus, em São Paulo a situação beira o ridículo: às 8h eles nem param no ponto, de tão lotados; meros 30 minutos depois, começam a passar com lugar sobrando — e assim seguirão boa parte do dia. Às 18h, no sentido centro-bairro, a superlotação é a regra, mas no bairro-centro os busões estão vazios e inúteis.

Talvez não dê certo para todo mundo, mas que tal negociar horários alternativos com seu chefe (ou com seus funcionários, se você é patrão)?

Agora, nada vai funcionar para quem se incomoda em conviver com o diferente; nem para quem sofre daquele medo difuso da cidade, tão amplificado pelos arautos de B.O. que vicejam na TV. Pois é no ponto de ônibus que o "nóia" vem nos pedir esmola; é dentro do busão que viajam a doméstica, o operário. No seu carro não entra favelado, mas no ônibus é outra história.

Dê uma chance à cidade. Tente não usar o carro de vez em quando. Não duvidamos que duas coisas aconteçam:

Uma, esse "de vez em quando" virar "frequentemente".

Outra, ficar mais gostoso e divertido guiar seu carro — sem o estresse da necessidade imposta (e não escolhida).

(por Claudio Luís de Souza, com Redação)

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