Clio e Classe S ilustram o abismo entre mínimo e máximo
Não é preciso discorrer sobre as diferenças entre mínimo e máximo. São substantivos antônimos; um não pode ser o outro, e ponto.
Mas, se compusermos sentenças com as locuções "o mínimo necessário" e "o máximo possível", embaralhamos a semântica e enveredamos pelo terreno das escolhas — digamos assim — filosóficas.
Inclusive na indústria automotiva.
Tirar o máximo possível do mínimo necessário, por exemplo, é o que faz a Renault, que hoje dota seu Clio sul-americano de pouco mais que freios comuns e cintos de segurança para proteger seus clientes.
Renault Clio: esse carro é o mínimo!
Também por isso, a marca pode vender o modelo a preço relativamente baixo (menos de R$ 25 mil), ganhando na quantidade de emplacamentos. Ela maximiza seu lucro ao minimizar (dentro da lei) os itens de segurança.
No ano que vem, o Clio nacional passa a ter airbags frontais e freios com ABS, mas só porque serão dispositivos obrigatórios. Neste 2013 que ainda não acabou, a Renault prefere aguentar firme até o vexame imposto pelos testes do Latin NCAP, nos quais o compacto tirou um redondo zero quanto à proteção a adultos nos bancos dianteiros.
"O Clio tem o mínimo necessário", poderia argumentar a montadora. E estaria certíssima.
Fato é que o máximo possível é mais útil à sociedade, parece, quando não dá as mãos ao mínimo necessário. A Mercedes-Benz ofereceu eloquente exemplo disso há duas semanas, ao lançar a nova geração do sedã Classe S.
O carro traz não apenas o que parece ser o máximo possível em termos de tecnologia, luxo e segurança, como chega ao paroxismo de subverter o senso comum ao trazer à luz a existência de um (quase sempre) insuspeitado máximo necessário: tudo indica que o modelo pode dirigir a si mesmo, mas a Mercedes teve de conter essa capacidade simplesmente porque as ruas (e, de modo mais geral, os governos) não estão preparados para receber/permitir um carro interagindo com o ambiente de forma hipercomplexa.
Mercedes Classe S: ele é o máximo, ao ponto de ser meio que proibido…
A direção autônoma (autonomous driving, como descrevem os executivos da Mercedes) é o máximo possível que a indústria automotiva tem a oferecer à civilização? Pelo conforto e segurança hoje impensáveis a não ser na ficção, e mais ainda se aliada a emissão zero/eficiência energética total, cremos que sim.
E o Clio sem airbags e ABS, ainda com alguns meses de mercado brasileiro à frente, é o mínimo necessário que a Renault tem a oferecer a seus clientes?
Certamente: é o que diz a lei. Mas é, também, uma decepção.
PS — Sim, leitores, eu sei perfeitamente que o Classe S vai custar no Brasil cerca de 25 vezes mais do que custa hoje o Clio. Mas sei também que em 1978 um ancestral desse mesmo Classe S foi o pioneiro no uso de freios ABS em carros de produção; hoje, o sistema antiblocante é uma banalidade, e barato a ponto de valer a pena retorná-lo ao Clio em 2014.
(por Claudio Luís de Souza)
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