Bugatti cria recorde para vender oito carros
Você ainda acredita em provas de quebra de recorde de velocidade? UOL Carros acreditava até a manhã desta quinta-feira. Foi quando soubemos do comunicado da Bugatti afirmando ter estabelecido nova marca mundial para um carro esportivo sem teto, ao alcançar 408,84 km/h com o roadster Bugatti Veyron 16.4 Grand Sport Vitesse. A partir disso, deixamos de acreditar.
Segundo a nota da marca francesa, que pertence ao grupo Volkswagen, o recorde teria sido estabelecido no dia 6, sábado último, na pista de testes de Ehra-Lessien, na Alemanha, com o empresário e piloto chinês Anthony Liu a bordo de uma versão de produção do Veyron sem teto.
Fotos: Divulgação
O feito foi "comprado" e noticiado por todo tipo de veículo minimamente ligado ao universo automotivo, mas seguimos com dúvidas inquietantes e resolvemos pesquisar. Nada contra nenhum dos elementos a seguir, mas:
1. Que motivos levariam a Bugatti (junto com a Volkswagen) a escolher sua pista de testes (com todo o controle de ambiente possível e necessário), mas deixar a façanha a cargo de um chinês desconhecido e não a um piloto próprio?
2. Por que não chamar o Guinness (Livro dos Recordes) para certificar o teste e a velocidade alcançada? Seria a chance de calar a boca da norte-americana Hennessey, que desde o começo do mês tem contestado as últimas marcas da Bugatti, em especial o recorde de "carro mais rápido do mundo" obtido também pelo Veyron em sua versão Super Sport. Em vez disso, a marca escolheu a independente TÜV, também alemã.
3. Por que as tradicionais (esperadas e necessárias) modificações na estrutura do carro não foram divulgadas? Segundo o comunicado da Bugatti, o carro teria todas as soluções de qualquer outra unidade de produção da versão Grand Sport Vitesse — motor de 16 litros, quatro turbos, potência de 1.200 cavalos, sistema de tração integral, reforço estrutural do chassi, cockpit e e cobertura em forma de concha totalmente em fibra de carbono e para-brisa e spoiler de teto diferenciados (em relação ao cupê) para reduzir ao máximo a turbulência. De novidade, apenas uma pintura bicolor especial. Curioso, não?
Pois boa parte da imprensa europeia levantou as mesmas suspeitas e chegou ao ponto crucial — e de modo muito simples: o Veyron 16.4 Grand Sport Vitesse de produção tem velocidade limitada pela fabricante em 375 km/h. Em outras palavras, um carro original nunca poderia chegar perto dos 400 km/h, quanto mais ultrapassá-los.
Recorde? Veyron Grand Sport Vitesse "normal" só chega aos 375 km/h
Vamos repetir: nada contra fazer modificações para alcançar marcas e patamares novos, isso é esperado. Mas deve-se jogar claro, algo que a Bugatti não fez. Tanto é assim, que escolheu a TÜV para a certificação da marca, já que o Guinness Book já se manifestou contra a homologação de recordes de "carros de produção" fora das especificações, ou seja, com o limitador de velocidade desligado.
Qual o motivo do engodo? Simples: vender mais carros para os chineses — entendeu a participação de Anthony Liu (recebendo o certificado de quebra da marca na foto nesta página)?
De fato, oito unidades do Veyron iguais ao utilizado na prova, inclusive com a pintura bicolor, serão feitas especialmente para os endinheirados da China. Cada unidade terá um estribo personalizado com os dados do "recorde" e custará 1,99 milhão de euros, mais de R$ 5,5 milhões. Todos serão expostos no Salão de Xangai, que será realizado a partir do dia 21 de abril. Haverá cobertura de UOL Carros, in loco, e apostamos desde já: o carro será um dos micos do evento.
Num mundo cada vez mais atento à noção de eficiência, sustentabilidade e, principalmente, ética, a aventura de quebra de recordes perdeu um pouco do sentido, ao passo em que manobras dissimuladas tornam-se totalmente execráveis.
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