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Perdi o medo de avião, mas ganhei o medo de QQ

UOL Carros

02/05/2011 19h49

CLAUDIO DE SOUZA
Editor de UOL Carros

Na semana passada viajamos ao Rio de Janeiro para a apresentação oficial do Chery QQ, subcompacto da marca chinesa que chega ao Brasil com o status de carro mais barato do mercado, a R$ 22.990. Como no caso de outros modelos vindos do país asiático, seu "preço baixo" não é tão baixo assim — a vantagem ante o tradicional e confiabilíssimo Fiat Mille é de menos de R$ 500, por exemplo. O que torna a oferta boa é o pacotão de equipamentos de série, que inclui ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, ABS e airbags etc. Como bem notou o jornal Folha de S.Paulo, é um nível de conteúdo à la Toyota Corolla por um preço de… Fiat Mille.

Como o evento de lançamento foi no esquema bate-e-volta, publiquei imediatamente a apresentação de mercado do carrinho e convidei o leitor a reler a avaliação exclusiva e antecipada que UOL Carros fez do modelo, em janeiro.

Mas eu não poderia deixar de alertar o internauta e potencial comprador de um Chery QQ a respeito da sensação de insegurança que experimentei a bordo do modelo, ainda no Rio e depois de publicar o texto de mercado. Isso, não obstante o fato de a citada avaliação de Eugênio Augusto Brito narrar perfeitamente o comportamento do subcompacto, como no trecho a seguir:

Como ocorre com os outros Chery, a suspensão do QQ ainda está a quilômetros de distância do ideal para nosso piso. Mole, solta, instável demais, causa desconforto em lombadas, valetas, buracos (e o Brasil está cheio disso), e também sustos em curvas mais fechadas, dividindo a culpa com o centro de gravidade mais alto (o hatch QQ quase lembra uma minivan) e rodas e pneus de aro 13. Na estrada de pista simples e mão dupla, num determinado momento da avaliação, iniciamos uma curva mais fechada feita com maior velocidade do que o recomendável para um carro assim, e fomos escorregando até terminá-la na outra faixa — ou seja, na contramão (por sorte, não havia trânsito no sentido oposto). Mantenha-se, ainda, longe de caminhões e veículos pesados em geral: a turbulência vai jogá-lo para um lado indefinido (algo que ocorre com qualquer carro pequeno, mas cujo perigo é ampliado pelas imperfeições do QQ).

Divulgação

Chery QQ: vai lá, que a gente fica de fora só olhando…

O fato é que eu, pela primeira vez em quatro anos guiando todo tipo de carro, senti medo de verdade durante um test-drive. E isso num itinerário curto, urbano e seguro, entre o Aeroporto Santos Dumont e a praia de Botafogo, passando pelo Aterro do Flamengo.

Como passageiro, no banco de trás (havia quatro pessoas a bordo), quase surtei quando a colega que dirigia o carrinho o levou a pouco mais de 100 km/h. Como passávamos por um túnel, a sensação foi a de estar num chacoalhante trem-fantasma. Detesto que deem palpite quando eu dirijo, e por isso evito fazê-lo quando outros estão ao volante — mas dessa vez recomendei cuidado à motorista. Nem precisava, porque ela mesma já havia percebido o problema e logo tirou o pé.

Depois eu assumi o volante e, ao longo de um trecho de pouco mais de 5 km, fiquei perplexo com a instabilidade mostrada pelo QQ até em situações corriqueiras, como mudanças de faixa e retomadas modestas (de uns 70 km/h para uns 90 km/h) para ultrapassagens. O carrinho oscilou lateralmente o tempo todo, implorando para sair do controle.

Sim, a carroceria é alta e os pneus e rodas (aro 13) são pequenos, mas se eu quiser viver a "emoção" de guiar uma Towner eu vou à loja e compro uma, certo?

Boa parte dos colegas que dirigiram o QQ durante o evento no Rio apontou o mesmo problema, com intensidades semânticas diferentes. Veja em Carsale, Interpress e MotorDream

Não tenho a menor dúvida de que um Chery QQ trafegando a regulamentares 70 km/h numa via deteriorada, como por exemplo a Avenida do Estado em seu trecho paulistano, tem tudo para se tornar incontrolável caso passe em defeitos graves do pavimento. Outro dia assisti, naquela avenida, a um Chevrolet Astra simplesmente tirar as quatro rodas do chão devido a um desnível acentuado na pista. O "voo" durou uma fração de segundo e o motorista segurou o carro, que é relativamente largo, no braço. O que aconteceria se fosse um QQ?

Eu sempre tive um certo medo de avião, a ponto de suar frio nas turbulências mais fortes e, a cada nova viagem, pensar se valia mesmo a pena corroer meu estômago uma vez mais. Só que, de tanto voar a serviço de UOL Carros, esse medo simplesmente passou.

Depois dessa viagem ao Rio (de avião, diga-se), eu tenho medo é de QQ.

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