Um carro, dois carros, uma bike: parábola sobre uma compra

UOL Carros recebeu e-mail de um leitor e amigo que partiu em busca de um carro mais adequado ao seu dia-a-dia. Acreditamos que  suas ponderações e sua decisão final podem ser úteis para leitores que estejam na mesma situação. Leiam abaixo o que ele disse, com pequenas correções de estilo e, entre colchetes, informações adicionais importantes para a compreensão da história:

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Caro,

Lembra quando eu te disse que queria comprar um carro maior por causa da bicicleta? Pois é, não achei que fosse tão difícil decidir uma coisa dessas… Mas vou te contar o que rolou.

Como eu já contei, meu Polo [hatch] é 08/09, mas tá novíssimo, tipo 20.000 km, tudo tinindo. Só que ele não serve para carregar a bike que eu comprei, que aliás nem é assim tão grande. Para transportá-la dentro do carro eu preciso rebater o banco traseiro, e ainda assim tenho de tirar a roda dianteira da bike. É um p… trabalho antes, durante e depois. Fora que ela bate no vidro, na lata, no estofamento. Dá dó.

Bom, aí eu pensei em colocar aqueles suportes que vão atrás. Tem dois tipos, um que prende no próprio carro e custa uns R$ 150, e outro que vai preso na bola do engate. Esse é mais caro, quase 400 paus [R$ 400], e ainda por cima eu teria de colocar o engate, que sai por quase 300 paus [R$ 300]. O suporte que vai por fora costuma machucar a lataria do carro, e eu não admitiria isso. E tanto ele como o outro escondem a placa traseira, e as rodas da bike escondem as lanternas. Isso pode dar multa de sete pontos, meu! Imagina eu ficar sem CNH? Se aqui fosse Paris eu não ligava, mas em São Paulo só dá pra andar de bike em alguns lugares bem específicos, e por isso (e infelizmente) ela não substitui meu carro.

Enfim, pra não correr risco de multa o certo é colocar aquele suporte de placa e de lanternas, que vai meio que por cima da bike e custa mais uns 500 paus [R$ 500]. Aí eu achei que era trabalho demais e dinheiro demais, e comecei a pensar se valeria a pena simplesmente trocar de carro.

Meu Polo vale, segundo a tabela que vocês têm aí no site [Fipe], R$ 35.000. É um desaforo, porque eu paguei R$ 49.700, sendo que esse valor inclui banco de couro e insulfilm. Mas tudo bem, a gente sabe que é assim que funciona. Comprar carro zero é perder dinheiro logo que ele põe os pneus na rua, né? Você sempre me disse isso.

Depois de fazer uma bela pesquisa, percebi que eu precisava de uma perua — e não uma perua qualquer: tinha de ser grande, porque eu queria enfiar a bike inteira no porta-malas. E eu descobri que modelos tipo [Volkswagen] SpaceFox e [Fiat] Palio Weekend são apertados demais pra isso, cara! Mesmo baixando o banco, o acesso é inadequado para colocar a bike ali, porque são carros estreitos. Bom, e eu nem fui atrás daquelas m… de SUVs que você tanto analisam aí no site, né? Tipo, uns p… de uns trambolhos do c…, e simplesmente NÃO CABE uma bike no porta-malas! Que ridículo!

Acabei chegando na Renault Grand Tour. É espaçosa e tá com um preço legal: R$ 50.000. Aí liguei pra algumas concessionárias. E olha o que eu descobri (vou colocar tipo itens pra ficar mais fácil):

1 – O meu Polo, na troca, não valeria R$ 35.000, mas cerca de 20% menos: ou seja, R$ 28.000;
2 – Fora o preço de 50 paus [R$ 50.000] da Grand Tour, deve-se prever mais uns R$ 1.500 de IPVA proporcional, além de 900 paus [R$ 900] de documentação. Vou repetir: NOVECENTOS PAUS pra fazer uma b… de um documento!, Ah, vão à m…, né?
3 – O seguro, no caso, passaria do Polo pra perua, mas eu não cheguei a calcular o valor.

Bom, desse jeito eu teria de gastar — não perca a conta — R$ 22.000 em cima do meu Polo, mais uns R$ 2.400 para colocar a perua na rua; e aí bastaria eu tirar a Grand Tour da loja pra ela perder, por baixo, uns 5% do valor. Então, vamos às contas, caso eu comprasse mesmo o carro novo:

1 – Hoje eu tenho um carro que vale 35 paus [R$ 35.000].
2 – Amanhã eu teria um carro valendo NO MÁXIMO 47 paus [R$ 47.000], tendo gastado para isso R$ 35.000 + R$ 22.000 + R$ 2.400 = R$ 59.400.
3 – É a mesma coisa que pegar R$ 12.400 em notas e forrar a área de serviço pra Tina [cachorra de estimação dele] fazer xixi e cocô em cima.

Sabe o que eu fiz? Mandei todo mundo à m… e fui atrás de uma perua velha, que custasse esses R$ 12.400 ou menos. E depois de muito procurar na internet, e ver muito carro tranqueira, acabei achando uma Fiat Marea Weekend ano 2000/2000, com motor 1.8. O carro tava bem conservado, com 91.000 km. É aquilo que vocês chamam de filé. Eu até li um texto de um site aí do UOL que falou bem do carro. Tá vendo como vocês jornalistas servem para alguma coisa? Rsrsrsrs!

Fabricio Samahá/Best Cars

[O texto, do Best Cars, está aqui; a foto que ilustra esse post foi tirada dele, porque depois o leitor disse que o carro é da mesma cor, embora um ano mais novo].

Bom, o cara da loja pediu R$ 12.000 mais R$ 350 pra transferência. Ou seja, por R$ 50 A MENOS do que eu gastaria para ter UM CARRO valendo R$ 47.000, agora eu tenho DOIS CARROS valendo, juntos… R$ 47.000!!! E a bike cabe COM FOLGA no porta-malas (com o banco rebatido).

Claro, vou ter uns gastos extras com a Marea. Já comprei um jogo de tapetes de borracha e troquei as palhetas do limpador do parabrisa. O limpador traseiro não está funcionando: vou ter de ver isso num auto-elétrico. E acho que será uma boa dar uma revisada nos freios e trocar velas. Somando tudo, duvido que os gastos cheguem a R$ 1.000.

Num finde desses, quando você não estiver de plantão aí no UOL, te chamo para dar um rolê de bike comigo. Acho — não testei ainda — que cabem as duas bikes no porta-malas. Vambora?

Abração do seu amigo (que está começando a entender de carro).
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PS — Depois esse leitor contou que os outros usados que ele pesquisou e testou, além dos Marea Weekend, foram Ford Escort SW, Ford Mondeo SW e Volkswagen Santana Quantum. E, só para constar, ninguém tem nada contra a Renault Grand Tour; pelo contrário, é um belo carro. Nem temos afeição especial por Polo e Marea. Temos, isso sim, críticas ao que se paga para ter um carro novo no Brasil.